"Mas temos confiança e desejamos antes deixar este corpo, para habitar com o Senhor" (2 Co. 5.8).
É cada vez mais comum ouvir a ideia de que quando um cristão morre, ele 'volta para casa', referindo-se ao céu. Essa expressão, no entanto, não está alinhada com os ensinamentos da Bíblia. O que as Escrituras nos ensinam é que o crente não vem do céu, mas da terra, e é para o céu que ele vai após a morte. O corpo retorna ao pó, conforme está escrito em Gênesis 3:19, o sopro de vida volta para Deus, que o concedeu (Ec 7.13), e a alma encontra seu descanso eterno com Ele, conforme prometido em Mateus 11:28-30.
Na visão cristã tradicional, a expressão "voltar para casa" pode ser considerada problemática, pois implica em um retorno a um lugar de onde a alma não preexistiu. O mais apropriado seria dizer que o crente "morre e vai para casa", pois isso reflete a crença de que a alma humana não veio do céu, mas é criada na concepção ou no nascimento e vai para o céu após a morte física. Não dizemos que alguém "voltou para casa" quando está indo para lá pela primeira vez. O único que verdadeiramente "voltou para casa", ou seja, ao céu, foi Cristo.
A ideia de "ir para casa" enfatiza a origem terrena do ser humano e sua futura morada celestial. Não há uma volta a um lugar onde a alma já existia antes, mas sim uma transição para a habitação eterna com Deus. Essa perspectiva também é reforçada em João 14:2-3 (NVI), onde Jesus diz: "Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar-lhes lugar. E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver."
A crença de que os seres humanos vêm de um plano espiritual está mais associada ao Kardecismo do que ao cristianismo. No Kardecismo, acredita-se que o espírito permanece em um plano espiritual aguardando a reencarnação. No entanto, não encontramos base para essa crença na Bíblia.
O versículo frequentemente usado para sustentar essa ideia é Lucas 1.23, que diz: "E, terminados os dias do seu ministério, voltou para casa". No entanto, é crucial entender que esse texto não se refere à morte de Zacarias, mas sim ao fim de seu serviço no templo e seu retorno à sua casa terrena, onde vivia com sua esposa Isabel. Interpretar esse versículo como uma referência à ideia de que, ao morrer, um cristão "volta para casa" no sentido de ir para o céu, distorce a verdadeira interpretação do texto, gerando doutrinas estranhas no meio cristão.
Segundo as Escrituras, quando um cristão falece, ele vai para o seio de Abraão ou para o paraíso, aguardando o dia da primeira ressurreição, que ocorrerá na Segunda Vinda de Jesus. Nesse momento, tanto os salvos que já partiram quanto aqueles que estiverem vivos receberão um novo corpo e estarão para sempre com Jesus, nosso Senhor.
Portanto, a expressão "o crente morre e vai para casa" captura a essência da esperança cristã, revelando a convicção de que a vida após a morte não é um retorno a um estado anterior, mas sim uma entrada na plenitude da presença e amor de Deus no céu.