Ao lermos o capítulo 12 do livro de Apocalipse, nos deparamos com a figura de uma mulher. Ela é descrita vestida de sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre sua cabeça. Alguns acreditam que ela representa a Maria, mãe de Jesus Cristo, devido à sua posição proeminente na tradição cristã, principalmente no catolicismo. Outros veem essa mulher como uma representação da igreja cristã, mas ao analisarmos o capítulo 12 de Apocalipse veremos que esta mulher é uma representação simbólica da nação de Israel, como veremos a seguir.
POR QUE A MULHER DE APOCALIPSE 12 NÃO É MARIA, A MÃE DE JESUS?
O livro de Apocalipse é um livro profético, onde o autor emprega símbolos e figuras para transmitir a sua mensagem, como é o caso do capítulo 12. Ao analisarmos o contexto deste capítulo veremos que toda a sua linguagem é simbólica e não literal.
Logo no início do capítulo o autor descreve um grande sinal no céu, o que lhe deixou maravilhado, o sinal era "uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre sua cabeça" (Ap 12.1). É importante ressaltar que o autor em nenhum momento identifica essa mulher como Maria, a mãe de Jesus. Já que João, o autor do livro, era consciente da identidade da mãe de nosso Salvador. Em segundo lugar, não existe em nenhuma parte das Escrituras um texto que sirva de base para o ensinamento que Maria, como Jesus, subiu aos céus e que aparece aqui no capítulo doze do livro de Apocalipse, glorificada. Então a narrativa que Maria seria essa mulher, não passa de um argumento falacioso e sem base bíblica.
POR QUE A MULHER DE APOCALIPSE TAMBÉM NÃO É A IGREJA?
Na Bíblia, tanto a nação de Israel quanto a igreja de Cristo são simbolicamente retratadas como uma mulher. No Antigo Testamento, os profetas usavam frequentemente a figura da mulher para se referirem à nação de Israel. Por exemplo, em Isaías 54:5, Israel é descrita como uma esposa, e Deus como seu marido. No livro de Oséias, o profeta é instruído a se casar com uma mulher infiel, que representa a infidelidade de Israel para com Deus. Outra passagem que ilustra a nação de Israel como uma mulher está em Jeremias 3:14, onde Deus chama Israel de "esposa infiel" e os convida a retornar a Ele, prometendo restaurar seu relacionamento e conduzi-los de volta à Sua presença.
Da mesma forma, no Novo Testamento, a igreja de Cristo é representada como a noiva de Cristo. Em Efésios 5:25-27, o apóstolo Paulo compara o amor de Cristo pela igreja ao amor de um marido por sua esposa, enfatizando a entrega sacrificial de Cristo para purificar e santificar a igreja, a fim de apresentá-la como uma noiva gloriosa e imaculada.
Contudo, é crucial observar que a visão de João contém detalhes que claramente se referem à nação de Israel, e não à igreja. Além da simbologia que aponta para Israel, o fato de Jesus ter vindo dos judeus fortalece esse argumento. O próprio Jesus afirmou à mulher samaritana que a salvação vem dos judeus, indicando que foi por meio do povo judeu que o Filho de Deus veio ao mundo, e não através da igreja (Jo 4.22).
A compreensão da relação entre Cristo e a Igreja é essencial para uma teologia coerente e bíblica. Assim como Adão foi criado primeiro e Eva foi formada a partir de sua costela, Cristo, o segundo Adão, precede a Igreja, que foi gerada pela Sua obra redentora. Essa analogia entre a criação do primeiro homem e da mulher e a relação entre Cristo e a Igreja ajuda a esclarecer que a Igreja não gerou Cristo, mas, ao contrário, foi fruto de Sua obra salvífica.Cristo, sendo eterno, não surgiu a partir da Igreja, mas a Igreja foi estabelecida como resultado do Seu sacrifício, unindo todos os que creem nEle em um corpo espiritual. A Igreja é descrita nas Escrituras como o corpo de Cristo, do qual Ele é a cabeça, demonstrando a ordem e a autoridade divina. Jesus é o fundamento da Igreja, e ela se mantém firmada em Sua pessoa e obra.
Dessa forna, reconhecer a precedência de Cristo em relação à igreja é, portanto, essencial para compreender a mensagem da visão de João no capítulo 12 de Apocalipse.
"A MULHER ENVOLTA EM LUZ"
Através das palavras de João, podemos deduzir que a visão descrita retratava uma mulher radiante, como se estivesse envolta pela brilhante intensidade do sol. Essa resplandecência pode ser atribuída à presença gloriosa da criança em seu ventre, simbolizando Jesus de Nazaré, que nasceu e, após cumprir sua missão, ascendeu aos céus.
No livro de Lucas, capítulo 1, versículos 78 e 79, Zacarias profetizou com as seguintes palavras: "Por meio da infinita misericórdia de nosso Deus, a aurora brilhará sobre nós lá do alto, para iluminar aqueles que estão nas trevas e na sombra da morte, e guiar nossos passos no caminho da paz". Essa profecia faz alusão à chegada de Jesus, a luz que iluminaria aqueles que viviam na escuridão espiritual e ofereceria orientação no caminho da paz.
Posteriormente, Jesus afirmou a respeito de si mesmo: "Eu sou a luz do mundo". Essa afirmação representa a sua natureza divina e a sua missão de trazer iluminação espiritual para a humanidade. Assim como o sol irradia luz e dissipa as trevas, Jesus veio ao mundo para trazer a verdade, a vida e a esperança, guiando aqueles que o seguem no caminho da salvação e da reconciliação com Deus.
A metáfora da luz é recorrente nas escrituras sagradas, representando a presença de Deus, a verdade, o conhecimento divino e a revelação espiritual. Jesus é retratado como a personificação dessa luz, que brilha sobre a humanidade, dissipando a escuridão do pecado e conduzindo as pessoas à paz e à redenção. Ao reconhecer Jesus como a luz do mundo, somos convidados a segui-lo, permitindo que sua luz ilumine nossas vidas e nos guie em direção à eternidade.
O FILHO VARÃO: O REI PROMETIDO QUE GOVERNARÁ COM CETRO DE FERRO
A visão registrada por João no livro de Apocalipse revela um dos momentos mais emblemáticos da história redentora: o nascimento do Filho Varão (Apocalipse 12:5). A mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas, representa o povo de Israel — o canal pelo qual Deus trouxe ao mundo o Salvador. E o Filho Varão que nasce é, sem dúvida, uma referência direta ao Senhor Jesus Cristo.
“E deu à luz um filho varão, que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono.”(Ap 12:5)
Essa profecia ecoa os salmos messiânicos do Antigo Testamento, em especial o Salmo 2, onde Deus declara:
“Tu os quebrarás com vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.” (Sl 2:9)
Essa promessa aponta para o reinado futuro de Cristo, quando Ele retornará em glória para estabelecer Seu Reino milenar na Terra. A primeira vinda do Filho Varão foi marcada pela humildade e pela cruz; mas a segunda será marcada por poder, autoridade e justiça. Ele não virá mais como servo sofredor, mas como o Rei dos reis e Senhor dos senhores (Apocalipse 19:16).
No livro de Apocalipse, essa autoridade de reger as nações também é compartilhada com os que vencerem com Cristo:
“E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações. E com vara de ferro as regerá; e serão quebradas como vasos de oleiro; como também recebi de meu Pai.” (Ap 2:26-27)
Portanto, o Filho Varão é mais do que um símbolo; é a realidade do Messias prometido, o Cristo que nasceu de Israel, venceu a morte, ascendeu ao trono de Deus e voltará para reinar com justiça. Ele é a consumação de todas as promessas feitas desde o Éden, passando por Abraão, Davi e os profetas. Ele é o cumprimento da esperança messiânica que atravessa toda a Escritura.
A expectativa do retorno de Cristo é o combustível da fé da Igreja. O Filho Varão reinará com cetro de ferro, e nenhuma injustiça, impiedade ou rebelião subsistirá diante d’Ele. O governo que o mundo nunca conseguiu estabelecer, de paz verdadeira, justiça plena e santidade, será finalmente implantado por Aquele que é digno.
“O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos.” (Ap 11:15)
"A LUA SOBRE SEUS PÉS".
A lua tem um significado especial na cultura e na tradição da nação de Israel. De fato, em várias passagens proféticas do Antigo Testamento, a lua é mencionada como um sinal de eventos cósmicos associados ao fim dos tempos. Um exemplo disso é encontrado no livro de Joel, onde é dito que a lua se transformará em sangue antes do grande e terrível Dia do Senhor (Joel 2:31).
Além disso, a lua desempenha um papel importante no calendário e na observância religiosa judaica. O judaísmo segue um calendário baseado no ciclo lunar, e as festividades e observância religiosas são determinadas de acordo com esse calendário. As datas sagradas, como Rosh Hashaná (Ano Novo Judaico) e Yom Kipur (Dia do Perdão), são determinadas com base nas fases da lua.
A referência à lua também é encontrada no Salmo 89:36-37, onde se fala sobre o reinado duradouro do Messias, comparando-o com a lua: "A sua semente durará para sempre, e o seu trono, como o sol diante de mim. Será estabelecido para sempre como a lua, e a testemunha no céu é fiel."
Essas referências bíblicas e o uso da lua como um indicador de tempo e um símbolo profético destacam a importância e a conexão da lua com a nação de Israel. Ela serve como um lembrete constante de eventos cósmicos futuros e do papel central que Israel desempenha nos planos divinos. A lua é tanto um sinal dos tempos quanto um símbolo da promessa do reinado eterno do Messias.
"UMA COROA DE DOZE ESTRELAS SOBRE SUA CABEÇA"
Essa representação possui um simbolismo rico e profundo que está intrinsecamente ligado à nação de Israel. Por exemplo: em Gênesis 15. 5, Deus diz a Abraão, de que sua descendência seria tão numerosa quanto as estrelas do céu, e Gênesis 37. 9, no sonho de José, as onze estrelas representam seus irmãos, simbolizando as doze tribos de Israel, que eventualmente se formaram a partir deles. Essas referências bíblicas ilustram claramente a relação simbólica das doze estrelas com as doze tribos de Israel.
Embora a representação comum seja de doze estrelas como uma auréola em volta de uma mulher, é importante destacar que o texto menciona especificamente uma coroa com doze estrelas. Ao estarem unidas em forma de coroa, essas doze estrelas representam a promessa de que o Messias reinará sobre toda a casa de Israel, conforme ensinado na Sagrada Escritura. Essa coroa simboliza o poder e a autoridade do Messias sobre o povo escolhido de Deus, evidenciando sua posição como Rei dos reis. É um sinal de esperança e cumprimento das promessas divinas, um lembrete do cuidado e amor de Deus pelo seu povo ao longo da história.
Portanto, essa imagem da coroa de doze estrelas sobre a cabeça tem um profundo significado espiritual e histórico, representando a ligação indissolúvel entre Deus e a nação de Israel. Ela nos lembra da fidelidade de Deus em cumprir suas promessas e nos oferece uma visão da soberania do Messias, que reinará sobre toda a casa de Israel, trazendo paz, justiça e redenção para o seu povo.
A intensa perseguição do Dragão e a fuga da mulher para o deserto.
Outro fator crucial para a nossa compreensão apresentado no texto é a fuga da mulher para o deserto em meio à intensa perseguição do Dragão, reforçando a interpretação de que essa mulher representa Israel, e não a Igreja.
No texto, após a derrota do Dragão e de seus anjos, ele se volta contra a mulher, que é miraculosamente salva e protegida no deserto. Mesmo com as múltiplas investidas do Dragão, ela permanecerá segura durante um período que simboliza a grande tribulação, prevista para durar três anos e meio.
Embora este evento aponte para o futuro, a luta espiritual e física pela sobrevivência de Israel como nação é um tema recorrente na história, desde a sua formação até os dias atuais. Essas constantes ameaças e conflitos podem ser vistos como parte do esforço do Dragão, que simboliza as forças malignas, em tentar destruir o plano de Deus para Israel. No entanto, a promessa de proteção e salvação divina permanece firme, culminando na gloriosa vinda de Jesus, que trará redenção completa ao povo de Israel e estabelecerá Seu reino eterno. Este cenário reflete a fidelidade de Deus às Suas promessas, mesmo diante das mais ferozes adversidades.
O texto também diz que a mulher recebeu "duas asas de grande águia" para fugir para o deserto, onde é protegida da vista do Dragão, simboliza a proteção divina e o cuidado contínuo de Deus sobre Israel, assim como ocorreu na história da redenção do povo judeu. Esta imagem faz uma conexão direta com Êxodo 19:4, onde Deus diz:
"Vocês viram o que fiz ao Egito, e como os trouxe a mim sobre asas de águia e os conduzi."
Dessa forma, a figura da mulher, perseguida mas miraculosamente preservada, se alinha mais com o povo de Israel e sua trajetória histórica e profética, em vez de representar a Igreja.
O deserto, neste contexto, representa um lugar de proteção e provisão divina, longe do alcance do Dragão, reforçando a ideia de que Deus mantém Israel seguro até a consumação dos tempos. Hoje, Israel é uma nação forte, com muitos aliados, e sobretudo com a promessa de salvação futura, quando reconhecerão Jesus como o verdadeiro Messias.
Quem são os descendentes da mulher?
A mulher descrita no Apocalipse representa Israel, o povo escolhido de Deus, que deu à luz o Messias, Jesus Cristo. No entanto, os descendentes dessa mulher, mencionados em Apocalipse 12:17, não são apenas os descendentes físicos de Abraão, mas sim aqueles que compartilham da fé em Cristo. O apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, destaca que "nem todos os descendentes de Israel são Israel", mas sim aqueles que são filhos da promessa, ou seja, os que vivem pela fé (Rm 9.6-8).
Esses descendentes são os cristãos fiéis, aqueles que, independentemente de sua origem étnica, colocaram sua confiança em Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Em Gálatas 3:7, Paulo reforça essa verdade, afirmando que "os da fé é que são filhos de Abraão". Portanto, a verdadeira descendência da mulher é composta por aqueles que foram regenerados pela fé em Cristo e que agora fazem parte do povo de Deus.
Durante a Grande Tribulação, esses descendentes serão alvo da fúria do dragão, Satanás, que os perseguirá com grande intensidade. No entanto, eles vencerão, não por sua própria força, mas "pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte" (Ap. 12:11). Esse versículo revela o coração dos descendentes da mulher: uma fé inabalável em Cristo e uma devoção que coloca o amor a Deus acima de tudo, até mesmo da própria vida.
Esses crentes vencerão porque amam a Deus mais do que a própria vida, dispostos a enfrentar a perseguição e até a morte por amor a Cristo, demonstrando uma fé inabalável e uma devoção total ao Senhor. A vitória deles não está na força física, mas na fidelidade a Deus e na confiança no sacrifício redentor de Jesus.
Assim, os descendentes da mulher são aqueles que, através da fé, se tornam parte da família de Deus, vivendo em obediência e amor a Ele, mesmo diante das maiores adversidades.